terça-feira, 2 de novembro de 2010

Finados

Atendendo a tradições cristãs que remontam à Idade Média, o 1o de novembro é o dia de todos os santos. Celebram-se santos e mártires, gente que fez a diferença na construção de um mundo melhor. Em 2 de novembro, o dia dos mortos, são celebrados,
independente de seus méritos, os que partiram desta para melhor, ou pior, se assim o mereceram... Convertidas em festa religiosa, sob a denominação de Finados, nessas duas datas há a romaria aos cemitérios, a visita aos defuntos. E os espíritas?

Na questão 321, de O Livro dos Espíritos, ed. FEB, pergunta Kardec: O dia da comemoração dos mortos é, para os Espíritos, mais solene do que os outros dias? Apraz-lhes ir ao encontro dos que vão orar nos cemitérios sobre seus túmulos?

“Os Espíritos acodem nesse dia ao chamado dos que da Terra lhes dirigem seus pensamentos, como o fazem noutro dia qualquer.” Kardec volta a interrogar, dando sequência à questão: Mas o de finados é, para eles, um dia especial de reunião junto de suas sepulturas? “Nesse dia, em maior número se reúnem nas necrópoles, porque então também é maior, em tais lugares, o das pessoas que os chamam pelo pensamento. Porém, cada Espírito vai lá somente pelos seus amigos e não pela multidão dos indiferentes.” (Q. 321a.) As informações que André Luiz oferece sobre a vida espiritual, na psicografia de Chico Xavier, desdobram essas noções sintéticas, alertando-nos que não é dos mais recomendáveis o ambiente dos cemitérios. Ali estagiam Espíritos perturbados que, à semelhança de vampiros, sugam os resíduos de fluido vital dos corpos em decomposição, e também Espíritos despreparados para a grande transição, que permanecem por algum tempo imantados ao próprio cadáver.

Espíritos recém-desencarnados, ainda não adaptados à vida espiritual, não raro inconscientes de sua situação, não se sentirão à vontade ali, quando atraídos pela lembrança saudosa dos familiares que fazem do cemitério uma sala de visitas do Além, buscando contato com eles. Fico pensando que é de mau gosto marcar encontro com os mortos no cemitério. Imaginemos um filho que se mudou para longe e vem nos visitar. Planejaríamos o mesmo, em conversa telefônica? – Filho, espero por você junto ao túmulo da família... Melhor lembrar nossos amados que se foram, em nossa casa, enfeitando o lar com as flores que levaríamos à cidade dos pés juntos. Certamente hão de preferir assim. Virão até nós, felizes por terem sido lembrados. Poderemos até, se sensibilidade mediúnica possuirmos, contemplá-los.

Se isso não ocorre com maior frequência é porque as pessoas têm o mau costume de situar os mortos queridos como fantasmas. - Gosto muito de meu pai, mas que não me apareça! – É seu pai! – Não! É assombração! Na medida em que diminui o tempo que nos resta na jornada humana e se tornam mais numerosas as plaquetas de identificação no túmulo da família, somos convidados a refletir sobre a efemeridade da vida física.


Tanta gente se foi!… Amigos e familiares partiram, atendendo à convocação da morte; outros tantos partirão nos próximos anos. Talvez nós mesmos sejamos convocados… Como a morte age feito um ladrão,
ninguém sabe quando virá, seria conveniente que indagássemos a nós mesmos, diariamente: Se aprouver ao Senhor enviar-me a irredutível mensageira, impondo-me o retorno, simbolicamente serei lembrado como gente do 1o de novembro, santificado pelas ações, pelo empenho de renovação e serviço no Bem? Ou estarei no imenso contingente do 2 de novembro? Aqueles por quem oramos sob inspiração das ligações afetivas, mas que não fizeram nenhuma diferença, nada deixaram em favor de um mundo melhor e, não raro, levaram comprometimentos morais e espirituais? É bom pensar nisso, amigo leitor, tendo sempre presente a frase com que os frades trapistas da Tebaida saudavam os companheiros: Memento mori! Lembra-te de que vais morrer!

Por Richard Simonetti

O REFORMADOR

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