segunda-feira, 8 de julho de 2013

SEDE PERFEITOS

Regina Medeiros

“Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam. - Porque, se somente amardes os que vos amam que recompensa tereis disso? Não fazem assim também os publicanos? - Se unicamente saudardes os vossos irmãos, que fazeis com isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? - Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial.” (MATEUS, cap. V, vv. 44, 46 a 48.).

Jesus dirigiu esta frase a todos nós, colocando-a no tempo imperativo do verbo, em forma de uma ordem, em relação às tarefas ou missões que todos nós teríamos de executar. Sim! Porque apesar de sermos ainda muito imperfeitos, recebemos, em cada encarnação, além de provas e expiações dolorosas, necessárias ao nosso crescimento moral, a grande e difícil missão de auto aperfeiçoamento. Temos de domar as nossas más inclinaçõese progredir sempre no rumo da perfeição moral relativa.

Mas, o que quer dizer perfeição? – Perfeição caracteriza um ser ideal que reúne todas as qualidades e não tem qualquer defeito. Designa uma circunstância que não possa ser melhorada ainda mais e mais. Significa completude.

Sabemos que a perfeição absoluta corresponde exclusivamente a Deus, o ser que Jesus nos coloca como modelo (“Sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai celestial”- Mt, 5:48). Certamente, que jamais chegaremos a ter à perfectibilidade divina, atingindo, no máximo, o aperfeiçoamento relativo, já que as perfeições de Deus são infinitas e eternas. Mesmo esta, a perfeição relativa, encontra-se bem distanciada das nossas possibilidades evolutivas atuais. No entanto, Jesus emite uma ordem! Não é um pedido, um conselho, uma orientação; é uma ordem!

Esta frase imperiosa de Jesus acompanha-se de outra determinação extremamente difícil de ser posta em prática, por seres pouco evoluídos como nós: “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam”.... (Mateus cap. V 44 46). Como poderemos amar aos inimigos se ainda não aprendemos, sequer, a nos amarmos? Se ainda nos violentamos todos os dias pela cólera, pelos vícios de comportamento, pelos nocivos hábitos de vida aos quais nos apegamos, pelas emoções desajustadas que ainda cultivamos! Como poderemos amar os inimigos, se ainda não conseguimos compreender a lei de amor e sequer conseguimos amar aos que nos amam! Temos de descobrir a verdade sobre o amor, pois, desta emoção, apenas entrevemos o bem querer egoísta da posse e da reciprocidade.

Ah! Pobres de nós, em nossa pequenez e ignorância, que nos deparamos com a convocação de Jesus e estarrecemos diante dela, como diante de um obstáculo intransponível! Como e quando estaremos em condições de obedecer à ordem do nosso Mestre? Há dois mil anos, estamos tentando de mil modos errados ou inadequados, incorporar a lei universal de amor aos nossos sentimentos e atitudes, sem conseguir sequer compreendê-la, quanto mais vivenciá-la, mesmo que em suas modalidades mais simples.

A grande dificuldade de amar reside no impedimento que o nosso egoísmo e nosso orgulho promovem, fechando nossos olhos espirituais ao entendimento do AMOR. Na verdade, estamos na fase das boas intenções, queremos ser bons, amorosos e justos. Queremos amar, ter compaixão e caridade em nossas atitudes e, de repente, nos deparamos com impedimentos e justificativas descabidas e injustas, na tentativa de nos eximir das nossas obrigações morais relativas ao crescimento espiritual. E nos acomodamos!

“Sede perfeitos!” A ordem de Jesus ressoa como um convite maravilhosoa uma nova vida de iluminação e paz! Queremos ser bons; “Mas, dá tanto trabalho, temos de fazer tantas renúncias, cairemos tantas vezes... E depois, Jesus nos conhece e sabe que somos pequeninos e a Providência Divina é misericordiosa e nos dará um tempo infinito para adquirir a perfeição... Porque não esperar, caminhar devagar, no nosso próprio ritmo, sem tantas dificuldades?”E dessa forma, continuamos a adiar este processo reforma interior, adiando também, a felicidade e preferindo a dor, que continuará a nos visitar, enquanto precisarmos de nos educar através dela.

Deixemos de ser crianças espirituais, egoístas, imediatistas e sem visão de futuro. A nossa intelectualidade já nos permite raciocinar de forma mais objetiva, buscando a luz que nos convida a seguir sempre para frente e para o alto. É preciso que a nossa racionalidade atue sobre o nosso espírito, permitindo-nos raciocinar e compreender que estamos seres humanos, mas, somos na verdade, espíritos imortais, viajantes do infinito, aprendizes do amor e do infinito bem.

Seremos perfeitos, um dia, que poderá estar próximo ou distante, na dependência do nosso cuidado com o nosso próprio destino espiritual; temos que começar hoje, aqui e agora, a despertarnossas potencialidades espirituais, cultivando virtudes e realizando em nós mesmos, o processo de auto iluminação, segundo a orientação de Jesus: “Vós sois deuses” (João 10:34), lembrando-nos de que somos filhos de Deus, herdeiros de potencialidades infinitas, que deveremos despertar, pelo nosso esforço e dedicação. Um dia, poderemos atingir esta perfeição relativa, que se constituirá na nossa busca da iluminação íntima; a Lei de progresso nos empurrará sempre para o infinito bem, mas, o nosso livre-arbítrio é que ditará o tempo em que atingiremos a perfeição e a felicidade espiritual. Que este tempo seja breve para todos nós!

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