Questionamentos surgem quanto à natureza da justiça divina após destruidores cataclismos e flagelos naturais em que milhares de seres humanos perecem, de forma trágica, quase que instantaneamente. Sobretudo, porque, do ponto de vista de nossa imediata identificação com a realidade física, pessoas de bem sucumbem na mesma condição que os perversos. No entanto, esclarecem os bons espíritos que durante a vida terrena o homem relaciona tudo a seu corpo, mas após a morte, pensa de outra maneira. "A vida do corpo é um quase nada; um século de vosso mundo é um relâmpago na eternidade. Os sofrimentos que duram alguns dos vossos meses ou dias, nada são. Apenas um ensinamento que vos servirá no futuro. Os espíritos que preexistem e sobrevivem a tudo, eis o mundo real. São eles os filhos de Deus e o objeto de sua solicitude". E aqui está toda a raiz do sofrimento na Terra: o esquecimento de nossa verdadeira identidade espiritual e a conseqüente e atrofiada identificação com o mundo material e sua brutal e imperfeita realidade. Esquecidos de que somos seres espirituais em um mundo material, sequer cogitamos sobre as leis imutáveis da Inteligência Suprema regulando continua e incessantemente todas as coisas. Esquecemos também da lei de destruição, que é soberana na dimensão física, onde atualmente nossa consciência estagia, em demanda a realidades mais refinadas. Os espíritos insistem em nos conscientizar de que nossa realidade é espiritual por isso, há todo esse esforço deles nas comunicações, para que não nos desesperemos em momentos naturais extremos e inevitáveis. Dizem eles que os corpos não são mais que disfarces sob os quais nosso verdadeiro ser aparece no mundo. "Nas grandes calamidades que dizimam os homens eles são como um exército que, durante a guerra, vê os seus uniformes estragados, rotos ou perdidos. O general tem mais cuidado com os soldados do que com as vestes". Tempestades passageiras no destino do mundo. Lembra-nos Allan Kardec, em diálogo com os bons espíritos, transcrito em O Livro dos Espíritos no capítulo Lei de Destruição, "quer a morte se verifique por um flagelo ou por uma causa ordinária, não se pode escapar a ela quando soa a hora da partida: a única diferença é que no primeiro caso parte um grande número ao mesmo tempo". E observa, inteligentemente: "se pudéssemos elevar-nos pelo pensamento de maneira a abranger toda a humanidade numa visão única, esses flagelos tão terríveis não nos pareceriam mais do que tempestades passageiras no destino do mundo". Nosso ponto de vista distorcido. Mesmo assim, fica aquela impressão de que as vítimas desses flagelos continuam sendo vítimas. Contudo, enfatizam os espíritos sobre nosso ponto de vista distorcido, convidando-nos a considerar que a vida, em sua expressão apenas material, "é insignificante em relação ao infinito", e justamente temos dificuldade em levar isto em consideração. E na balança da lei de compensação cósmica, outra lei divina e soberana, "essas vítimas terão noutra existência uma larga compensação para os seus sofrimentos, se souberem suportá-las com resignação". Nessas tragédias, cada indíviduo recebe, em menor ou maior proporção, a parte que lhe cabe. Lembram-nos ainda os bons espíritos de que muitos flagelos são as conseqüências da própria imprevidência do homem. À medida que se adquire conhecimentos e experiências, ele pode evitá-los, preveni-los (ou minimiza-los) se souber pesquisar-lhes as causas. Mas entre os males que afligem a humanidade, há os que são de natureza geral e pertencem aos desígnios da Providência. "Desses, cada indivíduo recebe, em menor ou maior proporção, a parte que lhe cabe, não lhe sendo possível opor nada mais que a resignação à vontade de Deus. Mas ainda esses males são geralmente agravados pela indolência do homem". Os avanços da ciência — o exercício da inteligência e da caridade Sobre essa questão de prevenção, comenta o codificador, ainda no mesmo capítulo de O Livro dos Espíritos: "Através da ciência, algumas regiões antigamente devastadas por terríveis flagelos não estão hoje resguardadas? Que não fará o homem, portanto, pelo seu bem-estar material, quando souber aproveitar todos os recursos de sua inteligência e quando, ao cuidado da sua preservação pessoal, souber aliar o sentimento a uma verdadeira caridade para com semelhantes?" Enfatizam os espíritos que esses grandes flagelos naturais "são provas que proporcionam ao homem a ocasião de exercitar a inteligência, de mostrar a sua paciência e a sua resignação ante a vontade de Deus, ao mesmo tempo em que lhe permitem desenvolver os sentimentos de abnegação, de desinteresse próprio e de amor ao próximo, se ele não for dominado pelo egoísmo". Os desígnios da Providência face aos flagelos destruidores. Durante esses trágicos acontecimentos, os desesperados e os imediatistas perguntam por quê Ele não poderia empregar outros meios para melhorar a humanidade que não essas tragédias. Ao que respondem os espíritos do bem: "O Criador diariamente emprega outros meios, pois deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. É o homem que não os aproveita; então, é necessário afligi-lo em seu orgulho e fazê-lo sentir a própria fraqueza." No plano imperfeito em que nos encontramos, a destruição é necessária para a regeneração moral dos espíritos e sintetizando o ensinamento dos espíritos superiores, sobre a lei da destruição, soberana em nosso plano material, esclarecem eles que o Criador aflige a humanidade com esses flagelos para fazê-la avançar mais depressa, uma vez que a destruição é necessária para a regeneração moral dos espíritos, que adquirem em cada nova existência um novo grau de perfeição. E observam: "é necessário ver o fim para apreciar os resultados. Só julgais essas coisas do vosso ponto de vista pessoal, e os chamais de flagelos por causa dos prejuízos que vos causam. Mas esses transtornos são freqüentemente necessários para fazer com que as coisas cheguem mais prontamente a uma ordem melhor, realizando-se em alguns anos o que necessitaria de muitos séculos". _______ Artigo elaborado sobre estudo do capítulo VI Lei de Destruição, livro terceiro, de O Livro dos Espíritos, publicado pela EME Editora, tradução de J. Herculano Pires | |
sexta-feira, 11 de março de 2011
Visão espírita dos cataclismos e flagelos naturais
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