Pergunta nº 719 de “O Livro dos Espíritos”, de Kardec:
“Merece censura o homem por procurar o bem-estar?”
Resposta das vozes do Alto: “Ë natural o desejo do bem-estar. Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação. Ele não considera crime a procura do bem-estar, desde que não seja conseguido à custa de outrem e não venha diminuir-vos nem as forças físicas, nem as forças morais.”
Aí está um ensinamento que contesta fundamentalmente a concepção absurda e até certo ponto blasfema, corrente em certos meios religiosos, de que “o homem nasce neste mundo para sofrer, a. fim de fazer-se merecedor de suaves recompensas no céu”.
Sem dúvida, sendo a Humanidade terrena uma das mais imperfeitas no concerto universal, compreende-se porque mais sofre do que goza. Ë o preço de sua. primariedade.
Cada um de nós, porém, pode e deve trabalhar para promover-se socialmente, conquistando, para si mesmo e para os seus, tudo quanto seja agradável, útil e concorra para aumentar a alegria de viver.
Não é verdade, pois, que o homem deva aceitar, passivamente, tudo que o excrucia; conformar-se, submisso, com a má organização da sociedade, responsável pela miséria de tantos; ou mesmo impor-se penitências voluntárias, por serem estas coisas conformes aos planos divinos a nosso respeito.
Se assim fora, Deus seria um sádico.
O que Ele quer tal o ensino da Doutrina Espírita, é a felicidade de todos, não apenas “post-mortem”, num suposto paraíso de delícias, onde ninguém tenha o que fazer, mas desde agora e aqui mesmo, contanto que Lhe compreendamos os amorosos e sábios desígnios e saibamos pautar nossos atos por uma fiel observância de Suas leis.
Não, não é crime a busca do bem-estar.
Criminosa, isto sim é a ignorância em que os homens vêm sendo mantidos acerca de seus direitos naturais, direitos esses inerentes à sua condição de filhos de Deus, sem acepção de raça, cor ou nacionalidade.
Criminosas são as manobras do egoísmo empregadas por uma minoria dominante, no sentido de impedir o advento da justiça social e a consequente melhoria do padrão de vida dos povos.
Criminosos são os gastos enormes que se fazem por toda a parte em programas armamentistas, em detrimento da produção dos bens de consumo que escasseiam ou faltam por completo em milhões de lares.
Criminoso é o desvio de vultosas parcelas da Humanidade (exatamente os elementos mais válidos) dos trabalhos fecundos que ativam a civilização, para a improdutividade das casernas, ou, o que é pior, para as operações bélicas que destroem, em minutos, o que levou séculos para edificar.
Ao influxo da lei de evolução, pela qual tudo se engrandece e prospera, diz-nos ainda a. Doutrina Espírita, os mundos também progridem, pois se destinam a oferecer aos seus habitantes condições de morada cada vez mais aprazíveis.
Não é possível, então, que a. Terra permaneça, eternamente, como mundo de expiações e de provas.
O aperfeiçoamento da estrutura socioeconômica das nações terrenas é, assim, um imperativo categórico, e bom seria que, ao invés de resistir às medidas que o favoreçam, as classes privilegiadas, em cujas mãos se encontram as rédeas do poder, renunciassem espontaneamente a algo do que lhes sobeja, em favor do bem-estar coletivo.
Isso evitaria os processos violentos e dolorosos que hão assinalado, até o presente, a marcha do progresso neste minúsculo planeta, inaugurando uma nova era, de compreensão e boa vontade, que os reacionários batizarão com outros nomes, mas que representará o triunfo do Cristianismo em sua expressão mais autêntica, mais nobre e mais bela.
Livro: Leis Morais da Vida
Chico Xavier
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