Diz-se que uma pessoa ou grupo é excluído socialmente quando apresenta dificuldades ou problemas sociais que levam ao isolamento e até a discriminação. Um dos exemplos mais comuns de exclusão social é a pobreza, no entanto, não é sempre que se pode afirmar que alguém que é pobre é excluído socialmente, tendo em vista que essa pessoa pode conviver bem com sua classe social e em sua comunidade. Dessa forma, diversos fatores como a pobreza/miséria, o desemprego, a etnia, os deficientes físicos e mentais, a opção sexual, a nacionalidade, os idosos, etc. podem gerar grupos excluídos socialmente, porém, não é obrigatório que o sejam.
As exclusões sociais podem ser de vários tipos, como categorizou Alfredo Bruto da Costa (2009) em cinco modos: a exclusão social de ordem econômica, social, cultural, patológica e comportamentos autodestrutivos.
Diante disso, observa-se que a exclusão social pode se exprimir em algumas dimensões na realidade dos indivíduos, como: na personalidade e auto-estima (SER); nas redes de pertencimento social, como família, vizinhança, grupos de convívio e a sociedade em geral (ESTAR); nas tarefas realizadas no quotidiano, seja como emprego remunerado, seja como trabalho voluntário (FAZER); na capacidade de empreender, ter iniciativa, criar e concretizar ações e projetos (CRIAR); no acesso a informações que embasem a tomada de decisões, na capacidade crítica das situações que o rodeiam (SABER); no rendimento, poder de compra e capacidade aquisitiva, estabelecendo prioridade de aquisição e consumo (TER).
Assim, constata-se que a exclusão social é uma situação de não realização de algumas ou de todas estas dimensões. O “não ser”, o “não estar”, o “não fazer”, o “não criar”, o “não saber”, e/ou “não ter”.
Através desta leitura pode-se relacionar a exclusão social (nesta forma mais abrangente) e a pobreza, que é a privação de recursos, trazendo como consequência a limitação na capacidade da realização de algumas dessas dimensões (fazer, criar, saber e/ou ter).
Assim, verifica-se a necessidade de erradicar a exclusão social possibilitando a (re)integração e aceitação de todos os indivíduos na sociedade, independente da situação em que se encontre ou da limitação que apresente. É aqui que surge uma das frentes de trabalho da Doutrina Espírita: PROMOVER O SER HUMANO, característica básica da Assistência Social Espírita, valorizando o ser e considerando o seu lado espiritual e imortal.
Segundo o Manual de Apoio Serviço de Assistência e Promoção Social Espírita (2007), “Promover o ser humano é, acima de tudo, oferecer-lhe condições para superar a situação de penúria sócio-econômica-moral-espiritual em que se encontra”. Ou seja, auxiliar o homem a ultrapassar suas limitações, entendendo que são transitórias em sua individualidade espiritual, pois nenhum ser foi criado para viver no eterno sofrimento.
A tarefa social, através de Allan Kardec, ganhou novo realce com o preceito “FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO” que fundamenta a prática da fraternidade no Evangelho de Jesus. Podem-se tomar como referência os capítulos X, XI, XII, XIII e XV de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
No Livro dos Espíritos, questão 886, Allan Kardec nos traz o verdadeiro sentido da caridade, como entendia Jesus: “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”. Se todos levassem em conta apenas este ensinamento em seu mais amplo sentido, a erradicação das exclusões sociais já haveria acontecido há, pelo menos, 150 anos. Os seres humanos se amariam realizando todo o bem que fosse possível.
Ainda no Livro dos Espíritos, questão 930, Allan Kardec fala sobre a caridade e a solidariedade, mostrando que “Numa sociedade organizada segundo a lei de Cristo ninguém deve morrer de fome”. Quando o homem seguir os mandamentos trazidos por Jesus, praticando a Lei Divina, terá uma ordem social justa e solidária tendo como consequência o seu próprio melhoramento.
Nessa perspectiva de promover o homem, auxiliando-o a superar e/ou lidar com suas limitações, (re)inserindo-o na sociedade (quando necessário), pode se tomar como exemplo a ‘Parábola do Bom Samaritano’ (S. Lucas, 10:25 a 37 – O evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XV, item 2) que oferece pontos relevantes orientadores da ação que deve ser adotada por qualquer pessoa que se proponha a realizar o serviço de assistência e promoção social espírita, minimizando ou até dirimindo as exclusões sociais à luz da Doutrina Espírita, como mostra o Manual de Apoio Serviço de Assistência e Promoção Social Espírita (2007):
“1º) Observar – (Tendo-o visto) – Observar a realidade encontrada e procurar compreender a sua complexidade, analisando a melhor forma de atender ao necessitado. (...) estar disponível para o outro(...); 2º) Aproximar-se – Ir ao encontro do outro (...) É um movimento em direção ao próximo, não apenas no sentido físico, mas acima de tudo, fraternal, procurando compreendê-lo de forma integral para poder atendê-lo em suas necessidades gerais, tais como, morais, espirituais, físicas, econômicas, sociais e psicológicas. É o processo de envolvimento solidário de um Ser com outro Ser; 3º) Utilizar os recursos necessários à assistência imediata – Utilizar os recursos que se têm à mão e os que possam reunir para o atendimento às necessidades daquele momento. Prestar os primeiros socorros com os recursos simples do vinho e do óleo e pensar as feridas com os recursos, também da solidariedade sincera. Assistir o próximo em suas necessidades imediatas e seguir adiante no atendimento às demais necessidades; 4º) Acompanhar – É dar prosseguimento ao trabalho de reerguimento, adotando as providências e procedimentos necessários ao processo de recuperação individual e social do assistido. O Bom Samaritano tomou o caído nos próprios braços, colocou-o no seu cavalo e o levou a uma hospedaria, dando sequência à tarefa de atendimento ao necessitado, promovendo o seu reequilíbrio; 5º) Tornar-se responsável pelo outro - «(...) tudo o que despenderes a mais eu te pagarei quando regressar», disse o Bom Samaritano confirmando o seu compromisso de pleno atendimento às necessidades do homem que foi ferido pelos ladrões. O Bom Samaritano faz-se companheiro existencial do caído, ajudando-o para que se reerga à altura de sua dignidade de Ser – filho de Deus –, e caminhe, tornando-se, também, e com base na própria experiência vivida, companheiro existencial de outro caído, aprimorando os seus próprios sentimentos em favor de um outro ser que poderá estar em estado de necessidade”.
Ao seguir este método de ação passa-se o sentido de responsabilidade e envolvimento para os que estão sendo atendidos, fazendo com que se sintam valorizados e amados. Sendo assim, reflitamos os ensinamentos de EMMANUEL: “trabalhar e servir, em qualquer parte, ser-nos-ão sempre apoio constante e promoção à Vida Melhor”. Todos podem fazer sua parte quando se trata de amar o seu próximo, basta querer.
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Ingrid G. de Lima
Vice Presidente do NELUZ
Muito bom.
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