domingo, 3 de julho de 2011

NECESSIDADE DE CARIDADE

 Comentários ao texto do Evangelho segundo o espiritismo, cap. XV, item 05 referido em Paulo, I Coríntios, cap. XIII, vers. 1 ao 13

que é a caridade? Seria darmos esmolas, levarmos comida aos necessitados, consolar os aflitos, vestir os nus? Fazer isso nos daria a consciência tranquila do dever cumprido como cristãos? Tentando responder a essas questões, vamos refletir um pouco, sobre o nosso posicionamento frente à caridade.
A caridade é algo muito mais profundo e importante. A caridade é traduzida mais exatamente, como “amar ao próximo como a si mesmo por amor a Deus”. Teríamos então, que começar a aprender a nos amarmos, a exercitar o auto-amor, para podermos começar a compreender como poderemos iniciar o aprendizado do amor ao outro. E o apóstolo Paulo escreve, na sua 1ª carta aos coríntios, inspirado pela sabedoria do próprio Mestre Jesus, que o guiava em seu ministério de amor: "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine". Ele inicia o texto, exaltando a divulgação da mensagem cristã na educação das almas, através da evangelização em todas as idades, mostrando que nesta tarefa, o amor desempenhará o papel de maior importância, transformando pelo exemplo e pelas vibrações afetivas, a própria mensagem doutrinária, em doação, que dessa forma, será facilmente absorvida pelos que a recebem. Se não tivermos amor, emitiremos apenas sons, que soarão como palavras vazias, à semelhança dos “sinos que tinem” sem, portanto, trazer qualquer mensagem. Paulo mostra que divulgar a mensagem de Jesus é uma das maiores formas de caridade cristã, dependendo do amor que colocarmos na realização dessa tarefa. E para levarmos o amor aos outros, teremos que manter constante luta sobre as nossas imperfeições, vigiando, orando, aperfeiçoando as nossas almas a cada dia. E ele prossegue: "E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, se não tivesse caridade, nada seria." Ter conhecimento espiritual não faz do ser humano, um indivíduo caridoso. É Jesus mesmo que se diz agradecido a Deus, “por haver escondido os mistérios divinos dos sábios e os revelado aos simples”(1), referindo-se ao sentimento e à fé nos ensinamentos espirituais. A mediunidade, o conhecimento espírita e o entendimento das Leis do universo dão maior responsabilidade frente à vida, e de posse disso, devem seus detentores modificar suas condutas e buscar o cultivo das virtudes, no exercício integral do amor e da harmonia para conseguirem fazer da divulgação evangélica uma forma de caridade.
Prosseguindo na maravilhosa lição, Paulo continua a orientar: “E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria".
  Citaremos Divaldo Franco: “Que se comece pelo ardor, logo o amor, preparando-se pela qualificação para servir bem. Comecemos a sentir o problema do próximo, e a melhor maneira de senti-lo é colocar-se no seu lugar, fazendo por ele o que gostaria que lhe fosse feito. Com esse exercício nasce uma onda de ternura, um sentimento de solidariedade e, a partir daí, começa-se a dizer: “Meu Deus, eu sou gente, eu sou uma célula do organismo universal; a sociedade caminha na minha vida”.(2) Dar esmolas e acabar com a necessidade material do próximo é muito importante. Mas preciso é alertar às pessoas que o preparo para a atividade e a intenção são a parte mais importante do processo. Se fizermos a doação material com o objetivo de aparecermos aos outros, ou então para aliviarmos tão somente  nossa consciência, a quem estaremos enganando? Além disso, correremos o risco de ao ajudar o necessitado, humilhá-lo, mantendo-o na situação de dependência e no estado de necessidade. A doação desinteressada deve brotar da compreensão da Lei de Deus, tornando-nos realmente  irmãos daquele a quem nos propomos ajudar. É preciso sentirmos em nossa alma a dor e os sentimentos do necessitado, procurando auxiliá-lo como gostaríamos de ser auxiliados, ou  seja, sem humilhações veladas, trazendo-lhe  esperança em futuro melhor e criando mecanismos de auto-realização para o ajudado.
E, mais adiante, Paulo nos orienta: "A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; não trata com leviandade; não se ensoberbece", mostrando que a verdadeira caridade traz a resignação, que é o entendimento das dificuldades da vida como obstáculos a serem vencidos, objetivando o progresso espiritual. Alia a bondade para com todos. Diz ainda, que a prudência deve fazer parte do exercício da caridade, pois o despreparo poderá trazer consequências inesperadas de difícil resolução.
E Paulo prossegue: “... Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade". Em um mundo onde mais vale a satisfação pessoal, em detrimento da paz alheia, a caridade deverá buscar a fraternidade, em todos os momentos, jamais pensando em interesses pessoais. Isso significa respeitar o outro; colocar primeiramente as necessidades integrais do outro, acima de qualquer outra coisa.  Valorizar o outro como espírito imortal, cuidando de retirá-lo do seu estado de necessidade para transformá-lo em um irmão, criando, para ele mecanismos que lhe devolvam a sua cidadania, sua auto-estima e sua capacidade de se auto-gerir e de vir a auxiliar a outros, no futuro, em vez de ser um eterno necessitado, realizando assim, a verdadeira promoção social do ser humano. Se atendermos, apenas, às suas necessidades imediatas, deixando-o continuar em seu estado de necessidade, não estaremos praticando a caridade, mas, tão somente, humilhando-o e estimulando a sua auto-desvalorização como ser humano e como espírito em aperfeiçoamento.
Continuando com Paulo: “a caridade tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta". Tudo tem sua hora. Saber esperar é próprio da caridade. Quando o ser amplia sua visão além da vida material, vê no horizonte a luz necessária para manter-se animado e vivo. Busca na sabedoria cristã o esclarecimento para suas dúvidas, deixando de lado a pressa e a precipitação. É preciso conhecer o assunto que iremos exercitar; estudá-lo, tornarmo-nos qualificados a desempenhá-lo, para poder começar a planejar as estratégias do projeto. Encontraremos percalços em nossa caminhada; mas, se estivermos teoricamente preparados (qualificados), estaremos aptos a enfrentar obstáculos e tempestades, quando surgirem.
E, Paulo continua a nos orientar: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior destas é a caridade." Sem a fé em Deus, em nossa imortalidade, em nossa capacidade de co-criar com Deus, nos faltará a esperança e a própria caridade. Por que amar, consolar e assistir ao outro, se a vida irá inexoravelmente encerrar-se com a morte? Se não acreditarmos nas vantagens de nos educarmos e nos aperfeiçoarmos espiritualmente, não teremos motivação auxiliar os que sofrem. É mais fácil e prazeroso usufruir as alegrias da vida do que se sacrificar pelo outro, renunciando ao conforto, às diversões e, até mesmo ao aconchego familiar para auxiliar a outros. Por isso, é preciso ter fé e esperança para praticar a caridade, mas, a caridade em si mesma, é muito maior do que estas outras duas virtudes. Portanto, a fé e a esperança são assessoras da caridade, que será o sentimento principal a ser buscado pelo homem de bem, libertando-o do seu egoísmo e encaminhando-o para o Reino de Deus.
“Fora da caridade, não há salvação”(3)  é uma das máximas da doutrina espírita, mas demanda estudo, organização, amorosidade e qualificação dos assistentes para atender às orientações da carta de Paulo aos coríntios, constituindo-se dessa forma em ação e promoção social espírita do ser humano e, não apenas em prática de assistencialismo vulgar.

(1) Mateus, cap. XI
(2) Divaldo Pereira Franco, em “Novos Rumos para o Centro Espírita”, Editora Leal, 1999
(3) Allan Kardec: Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, item 10.
             Por Regina Medeiros
Trabalhadora da Sefa, e do  Neluz

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