Sandra Borba Pereira
Longe de fazer autobiografia precoce, apenas informo ao leitor que nos encontramos no Movimento Espírita há puase quatro décadas, em atividades ininterruptas.
Acompanhando ao longo desses anos inúmeras atividades, quer como frequentadora, quer como trabalhadora ou coordenadora, temos feito nosso curso extensivo de aprendizado no campo do serviço espírita.
Aprendemos, no desenvolvimento dessas atividades, a trabalhar em equipe, planejar e vivenciar experiências junto aos companheiros de ideal, dentre outras aprendizagens que a integração na Casa Espírita proporciona.
Há , porém, em nosso processo de formação desde a juventude espírita, na Federação Espírita Pernambucana, uma aprendizagem que gostaríamos de destacar: o estímulo recebido de nossos orientadores e evangelizadores quanto ao respeito aos trabalhadores pioneiros, aos seareiros de longa folha de serviço à Causa espiritista.
Assim, bebemos na maturidade de um Holmes Vicenzi (ex-presidente da Federação Espírita Pernambucana), aprendemos com a mediunidade lúcida de Dona Beatriz Ferreira, só para citar alguns dos veneráveis servos da federativa pernambucana.
Mais adiante, com a transferência de domicílio para Natal, o contato com servos da “melhor idade” como Alba Tavares de Oliveira, Maria Banhos, Sales Asfora e nossa ainda encarnada Dagmar Falcão de Melo, nos proporcionou novos conhecimentos e novas orientações. Isso sem falar dos contatos com seareiros tais como Divaldo Franco, Cecília Rocha , Suely Caldas Schubert, ainda entre nós, sem esquecer do querido amigo Francisco Thiesen, ex-presidente da Federação Espírita Brasileira com o qual tive a honra de compartilhar inesquecíveis momentos de diálogos e esclarecimentos.
A partir dessas vivências pessoais e de situações que temos acompanhado e que nos remeteram a essas reflexões, optamos por socializar algumas idéias a respeito do envelhecimento e Movimento Espírita.
Em primeiro lugar destacamos que o Movimento Espírita é campo de trabalho para todas as faixas etárias, o que implica na construção de uma comunidade inter-faixas etárias, um campo de encontro de gerações. Por isso não é incomum enconbtrarmos confrades sexagenários e mais idosos, doando seu suor, sua energia, sua experiência e dedicação em inúmeros setores de atividades da Casa Espírita.
No entanto, algumas situações merecem reflexão nesse contexto. Vamos lá! A primeira se refere ao apêgo exagerado de alguns de nossos irmãos aos cargos, como se isso referendasse sua ação, despreocupada, as mais das vezes, com a formação de novos trabalhadores para que a obra – que é do Senhor e não nossa – não sofra solução de continuidade. Imaturidade, insegurança, pouca visão de futuro? Não temos condições de o saber.
Outra atitude, não menos preocupante, é a deserção de confrades de grande experiência e possibilidades mas que se consideram “velhos” demais para assumirem ou continuarem nos labores, quando ostentam vigor, lucidez e tempo disponível. Quais as razões dessa atitude? Alguns alegam que estão deixando que os mais jovens assumam as tarefas. Em outros casos podemos ter problemas de deslocamento para o espaço físico das tarefas, receios, acomodação, problemas com a auto-estima, etc. Cada caso é um caso, isso o sabemos.
Há, porém, nessa temática, algo mais preocupante ainda: a atitude de exclusão, de “descarte” dos confrades no interior das instituições, com base em equivocadas idéias como aquelas que se referem à mera produtividade ou que o “tempo” dos idosos já passou. Lentidão, teimosia dos mais “velhos” são outras alusões para o afastamento de irmãos não só de cargos (o que pode acontecer, claro) mas, sobretudo, de funções ou atividades.
Ali é o evangelizador afastado para dar lugar aos jovens; acolá é alguém que vai sendo silenciosamente excluída de atividades, tendo suas responsabilidades retiradas sem comunicação ou respeito; mais além é o ostracismo, o abandono, o esquecimento dos serviços prestados.
Nesses dias de tantas dificuldades em nosso Movimento, em que ideologias estranhas aos nossos valores cristãos se imiscuem em muitos de nossos arraiais, precisamos estar atentos a alguns pontos:
1. Envelhecer não significa perder a capacidade produtiva.
2. Ter mais idade, por outro lado, não nos torna mais experientes e detentores de mais “sabedoria”.
3. 3. É fundamental para o progresso do Movimento Espírita que nos preocupemos e formemos os novos trabalhadores, ofertando-lhes trilhas e não trilhos limitadores lembrando que o “novo sempre vem”.
4. A Casa Espírita, como educandário, templo e oficina, deve também se converter num ponto de encontro de gerações, para que todos juntos possamos usifruir dos conhecimentos, experiências, idéias e criatividade de todos (por sinal, todos espíritos imortais, em trânsito pela experiência corpórea).
5. Valorizar a folha de serviço dos menos jovens, em processos de inclusão em atividades e tarefas que possam realizar, se assim o desejarem.
6. Lembrar que também nós estamos em processo de envelhecimento e enfrentaremos os mesmos processos que hoje alguns idosos enfrentam em algumas de nossas instituições.
Assim sendo, prezado leitor, me incluo naqueles que dentro em breve estaremos adentrando a “terceira idade” e apresento as presentes ponderações inicialmente para mim mesma, mas desejando que possam servir de alerta para todos nós, a fim de que reflitamos sobre as nossas atitudes como pessoas que envelheceremos bem como sobre nossas atitudes diante de nossos antigos tarefeiros, nas Casas que nos acolhem como candidatos à iluminação.
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