quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Espiritismo: Desafios Contemporâneos




Os Espíritos superiores informaram que a lei natural ou divina está registrada na consciência, conforme O Livro dos Espíritos, questão 621, obra fruto dos esforços de Allan Kardec.
 Na mesma obra, questão 762, analisando a necessidade da pena de morte conforme a época vivida pela sociedade, informam-nos os Espíritos que tal solução está mais relacionada à dificuldade de identificar soluções melhores para as situações que determinam a existência de legislações incompatíveis com a lei natural, esclarecendo ainda que:
A recente decisão judicial sobre a descriminalização em caso de aborto de fetos anencéfalos é daqueles temas que revelam potenciais conflitos entre a real e efetiva influência na vida contemporânea de conceitos reencarnacionistas e as questões práticas e imediatas dos que experimentam determinadas circunstâncias, com forte impacto emocional.
No calor destas discussões, surgem afirmações irrefletidas de ambos os lados (algumas por retórica, outras por reais conflitos íntimos), desde acusações de “hipocrisia religiosa” e “falsa moralidade” até equívocos de interpretação como “abrir brecha para a indústria do aborto” e “questão de saúde pública é desculpa para oficializar o aborto no país”.
Neste contexto, importante não esquecermos a organização do Brasil como Estado laico, onde as leis devem ser organizadas para atender as necessidades da sociedade sem prevalência de conceitos tidos como do campo religioso.
Acontece que os religiosos representam uma parcela da sociedade a ser atendida pelas leis, da mesma forma que os nãos religiosos ou aqueles que se identificam como religiosos de qualquer corrente, mas que entendem que determinados atos não podem sofrer penalização pelo Estado, pois estariam no âmbito da responsabilidade individual sem efeito na coletividade.
A partir das questões levantadas acima em O Livro dos Espíritos, é possível discutirmos se a evolução das leis humanas, tendentes à lei natural, é representada pela materialização textual desta última ou pela conscientização das pessoas sobre os atos que, aparentemente, não determinam consequências para terceiros.
As novidades legais tendem a fortalecer o esforço de divulgação da Doutrina Espírita, que não pode tratar temas complexos com argumentos simplistas ou sob exageros emotivos não compatíveis com as necessidades de conscientização, sempre mais profunda e demorada, relacionadas ao aprendizado do Espírito imortal.
Existem benefícios da recente decisão judicial para aqueles que se identificam como espíritas? Acredito que sim: o fortalecimento da certeza que a nossa consciência, alimentada pelo esforço de aprendizado da Doutrina Espírita, representa a principal base para nos aproximarmos das leis naturais, pois a justiça humana está nos deixando à vontade para tomarmos nossas decisões, sem o jugo da penalização nos casos particulares de forte apelo emocional, quando somos confrontados com as nossas fragilidades.E existem prejuízos, que devem ser lidos como desafios a serem meditados para possível superação? Acredito que muitos, entre os quais:
1) Maior clareza do efeito na sociedade da divulgação da Doutrina Espírita:
1.1) O Espiritismo tem sido apresentado como uma doutrina com forte impacto na sociedade ou como mais uma religião formal?
1.2) Os espíritas, em particular o trabalhador espírita, têm discutido temas de relevância para a sociedade de forma equilibrada nos fóruns disponíveis ou está se deixando levar por formas de exposição conservadoras que impedem uma compreensão maior das pessoas emocionalmente envolvidas com os temas mais complexos?
2) Meditação se os centros espíritas estão preparados para atender as necessidades do seu público (trabalhadores e frequentadores) frente aos desafios que possam surgir com a flexibilização das leis humanas em assuntos de relevância frente ao conhecimento reencarnacionista, entregando-nos a clara responsabilidade de decidirmos sem o cunho penalizador do Estado:
2.1) Os centros espíritas se estruturam como um espaço comunitário para discutir e compreender as necessidades do seu entorno, buscando atendê-las à luz da Doutrina Espírita?
2.2) Temos um olhar e ação de cuidado para as pessoas que, envolvidas por dificuldades emocionais graves, a partir da vivência de situações adversas, tomam decisões que contrariam o que entendemos ser a melhor opção?
2.3) Apresentamos e apoiamos alternativas consistentes àquelas que a legislação humana permite?
Pelos desafios expostos, em lista exemplificativa e não restritiva, o leitor pode argumentar que o centro espírita não tem trabalhadores para as atividades básicas, como imaginar solução para tantas demandas?
Na verdade, já cuidamos disso tudo nos diversos espaços de estudo, trabalho e atendimento ao público do centro espírita, talvez de forma não muito bem caracterizada à luz de um tema atual e complexo, mas que deve fazer parte das nossas preocupações de aprendizes de Jesus, o Mestre por excelência que, em sua passagem corporal na Terra, não fugiu das necessidades imediatas dos seus conterrâneos.

Por Ricardo Alves da Silva

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