quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A vida continua...



Por Regina Medeiros


O espírito, viajante do infinito, “é criado simples e ignorante, isto é, sem conhecimentos” (1); sua destinação é a evolução plena, intelectual e moral, através dos tempos, pela vivência de experiências, cumulativas, que vão modificando, pouco a pouco, a sua essência, transmudando-a por meio de um aperfeiçoamento progressivo, em um ser destinado à luz.

Esse longo processo de aperfeiçoamento demanda tempo e continuidade. Não poderia, portanto, ser interrompido ou fragmentado. Para que sua destinação à perfeição ocorra, é necessário que o espírito viva, de forma intermitente, nas duas dimensões da vida, a dimensão espiritual, de onde ele se origina e a dimensão física, onde ele estagia, desenvolvendo novas potencialidades, através do exercício de novas sensações e emoções, indisponíveis em suas vivências fora da matéria. Assim, vai burilando o seu princípio espiritual, adaptando-o a um novo aprendizado: A VIVÊNCIA DO AMOR.

Ora está no corpo físico, encaminhado pelas reencarnações sucessivas, ora está na verdadeira vida, que é a espiritual, após atravessar as fronteiras da morte do corpo físico, que como um veste velha e rota, já não lhe serve mais e é devolvida à própria matéria da qual se originou.

As experiências na carne lhe são atraentes, pois lhe trazem o aprendizado das emoções e a vivências das sensações mais fortes, delas decorrentes. Desenvolvem também o seu intelecto pelas elaborações cada vez mais complexas, que é obrigado a fazer para sobreviver mais e melhor, no Planeta. Entretanto, ao retomar o corpo orgânico, tem suas potencialidades espirituais reduzidas, por falta de veículo físico adequado à expressão do espírito. Sente falta do Plano Espiritual, passando a fugir do corpo, sempre que pode, seja pelo desdobramento que o sono lhe permite, seja pelos momentos de abstrações ou concentrações, em vigília. Precisa desses momentos de comunhão com as suas origens, para se recompor e se abastecer das suas canseiras nas lutas do cotidiano. É possível, que se esse mecanismo de retorno intermitente ao Plano espiritual, não lhe fosse possível, que ele não suportasse a experiência encarnatória, que se lhe apresentaria como se fosse uma longa e sofrida prisão.

O esquecimento necessário à reencarnação do Espírito, não lhe permite lembrar de que suas origens e moradia são espirituais. Por isso, começa a se achar, apenas, um ser encarnado e, não, um espírito imortal. Começa a raciocinar, apenas, como homem e, assim, se acha um cidadão permanente da Terra, com uma oportunidade única de vida, que deverá ser muito bem aproveitada. Preso ao egoísmo primário, herança do instinto de sobrevivência, deseja ter tudo, a qualquer preço, antes que a morte o surpreenda.

A morte da vestimenta física o assusta, porque a sua fé é pobre ou nula. Teme que a sua vida seja aquela única que está vivendo e que venha a terminar no NADA, após alguns decênios; por isso, quer ter todas as experiências possíveis e da forma sempre mais rápida e mais intensa possíveis; quer aproveitar a vida, conforme ele consegue compreendê-la.

Ao lado disso, as religiões constituídas, principalmente, as cristãs, acenam-lhe com julgamentos severos após a morte, cujo juiz é um Deus punitivo, que condena as almas a sofrimentos terríveis, muitas vezes eternos, ao mesmo tempo, em que premia a umas raras almas, levando-as a um paraíso tedioso, de onde contemplarão do alto, os sofrimentos de outras almas queridas, de quem serão separados, definitiva e inapelavelmente, pela morte.

A Doutrina Espírita, entretanto nos esclarece que a morte não existe e que tudo é vida no universo. Uma vida que evolui da situação mais “simples e ignorante (1)”, os seres unicelulares, até os seres humanos, no topo da escala de vida; humanos, cuja evolução intelecto-moral é contínua, progressiva e infinita. “Ensina-nos a experiência que, por ocasião da morte, o perispírito se desprende mais ou menos lentamente do corpo; que, durante os primeiros minutos depois da desencarnação, o Espírito não encontra explicação para a situação em que se acha. Crê não estar morto, por isso que se sente vivo; vê a um lado o corpo, sabe que lhe pertence, mas não compreende que esteja separado dele” (2).

Estamos vivos e continuamos muito vivos, depois da morte física. Continuamos tão vivos, que observamos, ao nosso lado, aquele corpo que é o nosso e, que não mais nos pertence mais, porque já não nos serve. A vitalidade do corpo se foi e ali, diante do fenômeno da morte, ficamos perplexos ao descobrir, que saímos do corpo e habitamos um outro corpo, que é a réplica, verdadeira duplicada do corpo anterior- o corpo espiritual.

Por algum tempo, sofremos um período de readaptação ao Plano espiritual, onde reavaliamos o que fomos, o que fizemos do tempo que nos foi dado para viver na carne e, finalmente, após novos ensinamentos e treinamentos, fazemos uma nova programação de vida, a cada vez, mais experientes e fortalecidos; novas oportunidades encarnatórias nos são dadas, sempre visando o nosso crescimento intelectual e moral.

É por isso que afirmamos que vida continua e que, para sempre, estaremos vivos, por toda a eternidade, numa vida infinita, rica em possibilidades e crescimento. Viveremos sempre e para sempre, mesmo quando atingirmos a meta final: a perfeição infinita e relativa, que nos manterá próximos a Deus.



_____________________________________________________

O livro dos Espíritos, parte 2ª, capítulo I, questão 115;

O livro dos Espíritos, parte 2ª, capítulo VI, questão 257.




Nenhum comentário:

Postar um comentário